Arquivo mensais:agosto 2018

TESOURO MUSICAL SERÁ REVELADO EM CONCERTO

Obras inéditas de Miguel Dutra são encontradas e restauradas

O Museu da Música – Itu e a Secretaria Municipal de Cultura de Itu apresentam, neste sábado, um concerto que revelará um tesouro musical que permaneceu preservado por quase 150 anos. Trata-se de um conjunto de composições musicais do artista ituano Miguel Dutra. Segundo pesquisadores do Museu, o achado preenche um hiato de trinta anos na música ituana, do qual nada se conhecia das composições.
Miguel Dutra nasceu em Itu, em 1812 e faleceu em Piracicaba em 1875. Atuou em muitas frentes artísticas, das artes plásticas à construção de pianos. Estudou música no velho Convento Franciscano da cidade, tornando-se exímio organista e compositor tanto de música sacra como de obras profanas.
As obras inéditas serão apresentadas em concerto no sábado, dia 18 de agosto às 20h, na Igreja do Bom Jesus, quando será possível ouvir, pela interpretação do Coro da Câmara do Museu da Música, quinze obras sacras do músico, das quais onze são absolutamente inéditas. As músicas foram compostas entre 1828 e 1858 em Itu, Itatiba e Piracicaba para as cerimônias religiosas do ciclo festivo católico.
Ao longo dos últimos meses as obras vêm sendo restauradas e ensaiadas. A transcrição musical foi feita no próprio Museu da Música a partir dos originais que pertencem à Pinacoteca do Estado de São Paulo.
O evento é gratuito e faz parte de uma série de atividades entre mostras, encontros e apresentações, organizados pela Secretaria Municipal de Cultura de Itu, que procuram compreender melhor a obra do artista.

Concerto – Obra Sacra de Miguel Dutra

Igreja do Bom Jesus

18 de agosto, sábado, 20h.

Entrada Franca

Museu da Música e os guardiões da história

Disponível em:  http://www.itu.com.br/artigo/museu-da-musica-e-os-guardioes-da-historia-20180624

História & Cotidiano  – Publicado: Domingo, 24 de junho de 2018
por: Katia Auvray

“Em Itu, tem”. A frase, dita com despeito ou esperança por moradores de outras cidades da região, vai muito além de uma peça de vestuário ou artigo específico procurado. Passa pela música, religião, tradições culturais e modernidade, além da exuberante natureza e dos registros arqueológicos existentes.

Ouro Preto Paulista, Roma Brasileira ou Cidade dos Exageros, como a alcunhou o humorista Francisco Flaviano de Almeida, o Simplício, na década de 1960, Itu, em São Paulo, é tecida de fragmentos da história do País – da colônia à república. Fazendas de cana-de-açúcar e café, escravidão, imigração, ferrovia, industrialização e imponentes construções convivem com prédios modernos e condomínios luxuosos.

A cidade realiza alguns dos mais tradicionais eventos populares e religiosos do interior paulista, como a Festa do Divino, a Semana Santa e a procissão de Santa Rita, entre outros.

Não é por acaso que esse patrimônio permanece vivo no século 21. Muita gente trabalha para esse resultado. Desde o registro primoroso da história do cotidiano, feito pela revista Campo&Cidade, à bandeira santa que visita as casas – cuidadosamente conservada por devotos alferes – passando pelas marchinhas tocadas pelas bandas centenárias, pelos doces das antigas sinhás, à venda no comércio local e pelos museus, com suas programações dinâmicas.

Criado em dezembro de 2007, o Museu da Música – mantido pelo Instituto Cultural de Itu – detém o mérito de trazer para o presente, muito mais do que as composições perdidas ou inéditas de antigos ituanos. Muitas delas, integrantes dos ofícios religiosos realizados nos séculos 18, 19 e início do 20, como as obras do padre Jesuíno do Monte Carmelo, dos maestros Elias Álvares Lobo e Tristão Mariano da Costa.

A competência e a dedicação de Luís Roberto de Francisco – historiador, maestro e musicólogo – levaram ao resgate e valorização da música erudita e sacra ituana, juntamente com o voluntariado dos associados do Instituto Cultural de Itu, a curadora, Maria de Lourdes Sioli e o investimento dos parceiros.

Durante a Semana Santa, o “Ofício de Trevas”, recuperado em 2003 e cuja transcrição coube aos músicos Vinícius Gavioli e Luís Roberto de Francisco – é realizado na Matriz de Nossa Senhora do Carmo.

Na igreja parcialmente escurecida e durante uma hora e meia, os fiéis recitam salmos, antífonas, leituras e responsórios em latim, à luz de velas e incenso, da quinta-feira santa, lembrando a oração no Monte das Oliveiras, a prisão de Jesus e a traição de Judas, acompanhados por cantochão e canto gregoriano.

No altar, as imagens dos santos e o crucifixo são recobertos com um tecido preto. Catorze, das quinze velas dispostas num grande candelabro – que representam os apóstolos e as Marias que acompanharam a procissão – são apagadas ao longo da cerimônia. A 15ª permanece acesa, representando Jesus e a ressurreição.

Outras composições, conhecidas ou inéditas, foram ou estão em processo de recuperação, para serem apresentadas publicamente ou integradas aos seus ritos originais.

O Museu da Música também é responsável pela Eschola Cantorum. Conta com um importante acervo de fotos, gravações, documentos históricos e objetos que revelam a história de quatro séculos de atividade musical, promove concertos, conferências, ações educativas junto aos alunos das escolas, além da publicação de livros e cadernos sobre o acervo da música ituana.

O trabalho de tantos traz ao olhar contemporâneo dos moradores e turistas, a possibilidade de contemplar, por uma fresta do tempo, as relações da comunidade com a sua própria cultura.